Ouvi esta frase com espanto há alguns dias, pois era exatamente o que comentava com minha esposa, no início desta pandemia, que iria acontecer a muita gente de igreja, descobrir que a frequência aos seus cultos não lhes fariam falta.
A esta conclusão não cheguei com dificuldades, já que percebo desde há muito que as igrejas, de modo geral, perderam a relevância para a vida das pessoas. Há décadas, na verdade, pessoas frequentam igrejas por uma tradição familiar, porque cresceram no ambiente religioso, porque se associaram a um "club" onde, nos finais de semana, encontram as pessoas de seus convívios, além de parentes, para um encontro social onde cantam, dançam, fazem catarse coletiva e se confraternizam. Entretanto, motivação que venha como produto de uma compreensão do Evangelho de Cristo, como o vemos na Bíblia e seu chamado ao discipulado, já é coisa do passado ou mesmo de muito poucos.
Desde o final da década de 80 do século passado (Século XX), especialmente com o surgimento do movimento neo-pentecostal, as igrejas se modernizaram no discurso e na forma, assumindo valores do neoliberalismo econômico e priorizaram o crescimento acima de tudo e, por esta e outras razões, comprometeram a mensagem do Evangelho instrumentalizando a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, para a consecução de seus fins, misturando narrativas bíblicas com discursos motivacionais de autoajuda, prosperidade, pensamento positivo e elaborando uma liturgia que primava pelo entretenimento e emocionalismo.
Como resultado de tudo isso e, de fato, do enorme crescimento que os evangélicos experimentaram nas últimas três décadas, e por seu engajamento político, apaixonado, acabaram por eleger, nas eleições de 2018 para para presidente da república brasileira, o mais anticristão de todos os candidatos de então, quer na prática ou no discurso.
Diante deste quadro e da pandemia que agravou ainda mais a imagem da igreja pelo apoio a um governo absolutamente indiferente às (neste momento) em torno de 60 mil mortes no Brasil, muitos já expressam seu descontentamento com suas comunidades e já não pensam mais na possibilidade de um retorno, pois descobriram que não lhes fazem falta o culto vazio, acompanhado de um sermão sem conteúdo.
Temendo os efeitos que tal debandada pode causar, os pastores já começam a se manifestar...
Todos nos lembramos, ainda, do terrível desastre em Brumadinho em Janeiro do ano passado (2019), onde 259 pessoas morreram em razão do rompimento da barragem, além de muitos animais e da contaminação do ecossistema já que se tratava de um empreendimento tóxico, rejeito da mina de ferro da Vale do Rio Doce naquela cidade mineira.
Apesar de outros acidentes semelhantes em anos anteriores - Itabirito 2014 e Mariana em 2015 - estes não se constituíram em razão suficiente para que todos os cuidados fossem tomados a fim de evitar novas catástrofes. Por falta de vistorias técnicas e manutenção, a barragem se rompeu, constituindo -se no mais grave acidente de trabalho da história do Brasil.
O rompimento da barragem e o consequente desastre não era algo imprevisível, já que a ação do tempo, associado a grande pressão interna, causando deformações em sua estrutura, e mais as fortes chuvas que costumam cair na região, provocariam fissuras e erosões que, se não reparadas, levariam ao acidente.
Neste sentido, a barragem de Brumadinho e o consequente e terrível tragédia que ali se deu, torna-se uma metáfora daquilo que aconteceu em Mineapolis, no Estado de Minessota, nos EUa, no dia 25 de Maio do corrente (2020), com a morte de George Floyd, e a posterior onda de violentos protestos que se seguiram a partir dali e que rapidamente se espalharam por outras capitais e cidades americanas, bem como por outros países.
Tal como em Brumadinho a pressão, de outra natureza, mas pressão dos problemas sociais que vai se intensificando ao longo dos anos, ignorada pelas elites e governos locais, contidas muitas vezes por programas que apenas maquiam estes problemas que se arrastam há décadas, poderá causar convulsões sociais em várias partes do mundo. O caso de Floyd é apenas um exemplo disso, uma "fissura" nesta grande barragem social em que pobres, negros, povos e etnias estão confinados em vários países.
Hoje, a concentração de riqueza no mundo é tal que apenas 26 pessoas possuem o equivalente ao patrimônio de 3 bilhões e 800 milhões de habitantes, ou seja, 26 pessoas possuem a mesma riqueza de metade da população mundial. No Brasil, apenas 6 pessoas detém a riqueza equivalente da metade da população do país.
Pelas ruas de nossas cidades a população de rua cresce, assustadoramente. As favelas nos grandes centros urbanos aumentaram significativamente, tanto em número quanto em população. Os empregos estão ficando escassos e os que existem, em boa medida, estão sofrendo um processo de uberização, com as retiradas dos direitos trabalhistas e as próprias condições de trabalho. O desemprego está aumentando e se não bastasse isso, estamos enfrentando uma pandemia mundial que trará consequências ainda mais graves à economia e, portanto, às vidas humanas.
No Brasil, 80% das mortes pelas polícias locais é entre a população negra. Em Hong Kong os conflitos e tensões pela independência em relação à China provocam constantes e violentas manifestações. Em Israel, dentro dos territórios palestinos, estamos à beira de uma outra intifada em razão da ocupação por parte de Israel de terras palestinas para a construção de colônias judaicas e, consequentemente, o estrangulamento do pretendido Estado Palestino.
Portanto, em razão de todas estas tensões pelo mundo, uma "fissura" como esta em Mineapolis pode gerar um fator desencadeador capaz de se espalhar facilmente por outros países. A curto ou médio prazos, caso não haja uma mudança significativa de prioridades onde se construa uma economia solidária que passe pela diminuição radical da distância entre ricos e pobres e uma perseguição incansável à um modelo que priorize a Justiça Social, ampla, não haverá outro caminho senão o caos.
Compus este hino, no dia 30 de Abril de 2020 para que meus amigos Bolsonólatras o entoe em seus cultos
LOUVOR AO MITO
Salve Bolsonaro, mito, messias e profeta*
Bendito fruto entre os homens
Vieste para nos redimir. Venceste a morte Teu reino será mantido através das gerações Primeiro por ti, mesmo, depois pelo 01,02,03,04 e até pela 05, ainda que tenha sido, esta, uma fraquejada. Tu és a coroa da criação O Adão redivivo, criado à imagem e semelhança de deus Tu nos levarás à verdade, mesmo com tantas fake news Tu és cheio de graça e da tua boca destilas palavras de sabedoria, paz e justiça. Tu és incomparável. Bendito sejas tu, que nos livrarás desta gripizinha insistente e de todos os nossos inimigos esquerdopatas, esmagando-os sob teus formosos pés. Nós te amamos e adoramos, pois tu és o almejado dos povos.
Amém!
* O atual Ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, pastor presbiteriano, ao ser empossado no dia 29.04.2020, chamou Bolsonaro de "profeta do combate à criminalidade".
Pois é, há alguns anos, esta música do cantor gospel Regis Danese foi ouvida nos cultos, nas ruas, festas, carnavais, marchas gays, etc., por todo o Brasil e expôs a influência do movimento evangélico. Este movimento, presente no Brasil desde o final do Século XIX, representado pelas chamadas Igrejas Históricas (Igreja Congregacional, Batista, Presbiteriana e algumas outras) cresceu, gradativamente, nas primeiras sete décadas do Século XX e experimentou uma explosiva expansão a partir da década de 80 com o surgimento do movimento neo-pentecostal, ameaçando, assim, a liderança da Igreja Católica Romana como maior força cristã do país.
Certamente, um dos fatores responsáveis por tão surpreendente crescimento foi o fenômeno da chamada música gospel, que levou a mensagem evangélica para fora dos restrito espaço de culto, os templos, e assim deu visibilidade a este grupo que, em tempos passados, sofreu muito preconceito por parte de uma sociedade, predominantemente católica.
Para falar sobre este tema, fiz uma entrevista com um dos mais populares cantores desta vertente, Sérgio Lopes.
Quando você pensa em "Irã" que imagens lhe vem à mente: aiatolás, fanatismo religioso, mulheres com véus? O que dizer acerca do comportamento sexual dos iranianos?
Ao longo dos últimos 30 anos, apesar de grande parte da imprensa mundial se ocupar apenas de notícias relacionadas à política radical daquela República Islâmica, o país tem passado por uma transformação social e cultural profundas.
Sem fazer juízo de valor a atual revolução sexual do Irã é, certamente, algo sem precedentes na história do nação. Atitudes sociais mudaram tanto nas últimas décadas que muitos membros da diáspora iraniana ficam chocados quando visitam o país: "Hoje em dia Teerã faz Londres parecer uma cidade conservadora", disse-me um britânico-iraniano, recentemente, ao retornar de uma viagem à Teerã. Quando se trata de costumes sexuais o Irã está de fato se movendo em direção à Grã-Bretanha e Estados Unidos... e aceleradamente.
Apesar da falta de dados é possível ter uma ideia da dimensão da questão a partir das estatísticas oficiais compilados pela República Islâmica. A diminuição da natalidade, por exemplo, sinaliza uma maior aceitação de métodos contraceptivos e outras formas de planejamento familiar, bem como uma deterioração do papel tradicional da família. Ao longo das duas últimas décadas o país experimentou a queda de fertilidade mais rápida já registrada na história da humanidade. A taxa de crescimento anual da população do Irã caiu para 1,2 por cento em 2012 quando em 1986 era de 3,9 por cento, isto apesar do fato de que mais da metade dos iranianos têm menos de 35 anos de idade.
Ao mesmo tempo a idade média de casamento para os homens subiu de 20 para 28 anos nas últimas três décadas e as mulheres iranianas estão se casando entre 24 a 30 anos - isso somente cinco anos após a última década. Cerca de 40 por cento dos adultos em idade para se casar estão solteiros, de acordo com estatísticas oficiais. A taxa de divórcio, por sua vez, também disparou, triplicando, a partir de 50 mil divórcios registrados em 2000 para 150 mil em 2010. Atualmente, há um divórcio para cada sete casamentos em todo o país, mas nas grandes cidades a taxa fica significativamente maior. Em Teerã, por exemplo, a proporção é de um divórcio para cada 3,76 casamentos - quase comparável à Grã-Bretanha, onde 42 por cento dos casamentos terminam em divórcio. E não há nenhuma indicação de que a tendência seja de queda. Nos últimos seis meses a taxa de divórcios aumentou enquanto a taxa de casamento caiu, significativamente.
Mudança de atitudes em relação ao casamento e ao divórcio coincidiu com uma mudança dramática na forma como os iranianos se relacionam e encaram a questão sexual. De acordo com um estudo citado por um funcionário do Ministério da Juventude, em dezembro de 2008, a maioria dos homens entrevistados admitiu ter tido pelo menos uma relação com alguém do sexo oposto antes do casamento. Cerca de 13 por cento dessas relações "ilícitas", além disso, resultou em gravidez indesejada e aborto - números que, embora modesto, teria sido impensável há uma geração atrás. Não é de admirar, então, que o centro de pesquisas do Ministério da Juventude tenha alertado que "relacionamentos não saudáveis e a degeneração moral são as principais causas de divórcios entre os casais jovens iranianos."
Enquanto isso a indústria do sexo clandestino decolou nas últimas duas décadas. No início de 1990, a prostituição existia na maioria das cidades - especialmente em Teerã - mas os profissionais do sexo eram praticamente invisíveis, forçados à clandestinidade. Agora, a prostituição é uma realidade em muitas cidades do país. É possível encontrar profissionais do sexo pelas ruas à espera de clientes aleatórios. Dez anos atrás, o Jornal Entekhab afirmou que havia cerca de 85 mil profissionais do sexo apenas em Teerã.
Novamente, não há bons estática em todo o país sobre o número de prostitutas. Falando recentemente à BBC, o chefe da estatal Organização para o Bem-Estar Social do Irã disse: "Certas estatísticas não têm nenhuma função positiva na sociedade, em vez disso, elas causam um impacto psicológico negativo e, portanto, é melhor não falar sobre elas ". Porém, os dados disponíveis sugerem que 10 a 12 por cento das prostitutas iranianas são casadas. Isso é especialmente surpreendente dadas as punições islâmicas graves infligidas por sexo fora do casamento, principalmente para as mulheres. Mais surpreendentemente ainda é que nem todos os profissionais do sexo no Irã são mulheres. Um novo relatório confirma que as mulheres ricas de meia-idade, bem como mulheres jovens e educadas, estão em busca de relacionamentos sexuais de curto prazo e, para tanto, procurando os serviços de profissionais do sexo, masculinos.