que é, aliás, a sexta língua mais falada do mundo, com cerca de 220 milhões, ficando atrás somente do Mandarim, Hindi, Inglês, Espanhol e do Árabe.
Este dado, por si só, deveria aumentar nossa autoestima e nos levar a um carinho maior pelo idioma que falamos que aos meus ouvidos é um dos mais bonitos e dos mais ricos do mundo em razão de seus muitos recursos e possibilidades de construções e variações.
Porém, quando falo em "aprender o Português" não me refiro, necessariamente, ao conhecimento das definições das regras da Gramática Normativa, apesar de não lhe negar o valor. Pelo contrário, é necessário que incorporemos estas leis de modo que o "verbo se faça carne" e nossa boca possa verbalizar aquilo do que nosso "coração" possa se encher.
Para tanto, não conheço outro instrumento mais apropriado para internalizar o estilo mais elegante da língua que a leitura, mas aí tropeçamos em outro de nossos títulos, qual seja, o de um dos países menos afeitos a este exercício, ainda que nossas editoras estejam publicando títulos em grande quantidade à cada ano.
Naturalmente, apesar de ser Bacharel em Letras não sou exemplo de perfeição vernacular. Sei que mesmo neste texto é provável que você encontre erros do ponto de vista de nossa Gramática Normativa, até porque esta questão de "revisão" é sempre complicada (Carlos Drummond de Andrade que o diga). Porém, devo admitir que o razoável domínio que tenho de nosso belíssimo idioma é fruto de muita leitura. E aqui, vale dizer, leitura "nativa" e não somente a de traduções.
Por esta razão, precisamos fazer com que nossa sociedade, a partir de nossas crianças, adquira o gosto pela leitura, ou seja, pelo livro. Um povo desenvolvido e bem educado, certamente, é um povo que lê. É necessário, neste sentido, promover uma revolução cultural em nosso país, de maneira que a leitura seja estimulada desde o início do estudo fundamental e que continue até o término da faculdade.
Herdeiros de um excelente patrimônio literário, poderíamos começar pelos autores que escreveram em nosso próprio idioma e, assim, redescobrirmos os grandes nomes de nossa Literatura. Nomes, como por exemplo, do poeta Castro Alves que no poema abaixo exalta a importância desta temática em uma de suas mais conhecidas obras.
Desfrute:
Herdeiros de um excelente patrimônio literário, poderíamos começar pelos autores que escreveram em nosso próprio idioma e, assim, redescobrirmos os grandes nomes de nossa Literatura. Nomes, como por exemplo, do poeta Castro Alves que no poema abaixo exalta a importância desta temática em uma de suas mais conhecidas obras.
Desfrute:
- O Livro e a América
Talhado para as grandezas,
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
"Vai, Colombo, abre a cortina
"Da minha eterna oficina...
"Tira a América de lá".
Molhado inda do dilúvio,
Qual Tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um — traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.
Olhando em torno então brada:
"Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas — pra terra,
As estrelas — para os céus
Lá, do pólo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Corn os mundos... co'os
firmamentos!!!"
E Deus responde — "Marchar!"
"Marchar! ... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteon?...
Marchar co'a espada de Roma
— Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo. . .
— Com as garras nas mãos do mundo,
— Com os dentes no coração?...
"Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
"No pugilato tremendo
"Quem sempre vence é o porvir!"
Filhos do sec’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou...
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Vós, que o templo das idéias
Largo — abris às multidões,
Pra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse "rei dos ventos"
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz! ...
Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão! ...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada "Luz!" o Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...
Castro Alves