terça-feira, 2 de outubro de 2012

"O Grande Ditador"

Charles Chaplin em "O grande ditador"
Sem sombra de quaisquer dúvidas Charles Chaplin foi um dos maiores nomes da história do cinema. Sua atuação, direção e produção mostraram, sempre, a genialidade de sua mente e sua capacidade em transmitir forte conteúdo através de suas películas, ainda no período do cinema mudo.

Em um de seus maiores momentos, produziu e atuou em "O grande ditador", obra na qual faz uma sátira aos ditadores de modo geral e, como não poderia deixar de ser, à Hitler e ao nazismo em particular e também ao ditador italiano, à época, Benito Mussolini.

"O grande ditador" foi seu primeiro filme falado, lançado nos Estados Unidos em 1940, antes mesmo que este país abandonasse sua postura de neutralidade, entrando, definitivamente, na Segunda Guerra Mundial.

Trata-se de um filme-protesto, em forma de sátira, mas com forte conteúdo de contestação e denúncia do regime político promovido pela Alemanha de Adolf Hitler inclusive de sua perseguição aos judeus.

Comum a uma atitude profética a palavra de esperança não poderia faltar e o filme acaba com um belo discurso do barbeiro judeu, confundido com o ditador do fictício reino da "Tomânia", ambos interpretados por Chaplin, onde valores como "solidariedade" e "liberdade" são exaltados e a possibilidade da construção de um mundo melhor, construído com base na razão, na ciência e no progresso ("há controvérsias") é proposta.

No último parágrafo deste discurso as palavras de esperança, pronunciadas pelo barbeiro, são dirigidas especialmente à Hannah (nome da mãe de Charles Chaplin), interpretada pela atriz Paulette Goddard, que era esposa de Chaplin na vida real, mas que no filme assumiu o papel da mulher por quem o barbeiro judeu se apaixona.

Abaixo a transcrição do discurso e o trecho do filme em que o discurso é pronunciado.

Vale à pena ler e assistir.


Desfrute e pense!


Charles Chaplin em "O grande ditador"


"Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. 

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio nos aproximou. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, a união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora. Milhões de desesperados: homens, mulheres, criancinhas, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que podem me ouvir eu digo: não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá. 

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais, que vos desprezam, que vos escravizam, que arregimentam vossas vidas, que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos. Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão. Não sois máquina. Homens é que sois. E com o amor da humanidade em vossas almas. Não odieis. Só odeiam os que não se fazem amar, os que não se fazem amar e os inumanos. 

Soldados! Não batalheis pela escravidão. Lutai pela liberdade. No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou grupo de homens, mas de todos os homens. Está em vós. Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas; o poder de criar felicidade. Vós o povo tendes o poder de tornar esta vida livre e bela, de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. 

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam. Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão. Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e a prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos. 

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos. Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam. Estamos saindo da treva para a luz. Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah. A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah. Ergue os olhos."

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