segunda-feira, 29 de junho de 2020

Efeitos da quarentena: "descobri que a igreja não faz falta"

Ouvi esta frase com espanto há alguns dias, pois era exatamente o que comentava com minha esposa, no início desta pandemia, que iria acontecer a muita gente de igreja, descobrir que a frequência aos seus cultos não lhes fariam falta.

A esta conclusão não cheguei com dificuldades, já que percebo desde há muito que as igrejas, de modo geral, perderam a relevância para a vida das pessoas. Há décadas, na verdade, pessoas frequentam igrejas por uma tradição familiar, porque cresceram no ambiente religioso, porque se associaram a um "club" onde, nos finais de semana, encontram as pessoas de seus convívios, além de parentes, para um encontro social onde cantam, dançam, fazem catarse coletiva e se confraternizam. Entretanto, motivação que venha como produto de uma compreensão do Evangelho de Cristo, como o vemos na Bíblia e seu chamado ao discipulado, já é coisa do passado ou mesmo de muito poucos.

Desde o final da década de 80 do século passado (Século XX), especialmente com o surgimento do movimento neo-pentecostal, as igrejas se modernizaram no discurso e na forma, assumindo valores do neoliberalismo econômico e priorizaram o crescimento acima de tudo e, por esta e outras razões, comprometeram a mensagem do Evangelho instrumentalizando a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, para a consecução de seus fins, misturando narrativas bíblicas com discursos motivacionais de autoajuda, prosperidade, pensamento positivo e elaborando uma liturgia que primava pelo entretenimento e emocionalismo.

Como resultado de tudo isso e, de fato, do enorme crescimento que os evangélicos experimentaram nas últimas três décadas, e por seu engajamento político, apaixonado, acabaram por eleger, nas eleições de 2018 para para presidente da república brasileira, o mais anticristão de todos os candidatos de então, quer na prática ou no discurso.

Diante deste quadro e da pandemia que agravou ainda mais a imagem da igreja pelo apoio a um governo absolutamente indiferente às (neste momento) em torno de 60 mil mortes no Brasil, muitos já expressam seu descontentamento com suas comunidades e já não pensam mais na possibilidade de um retorno, pois descobriram que não lhes fazem falta o culto vazio, acompanhado de um sermão sem conteúdo.

Temendo os efeitos que tal debandada pode causar, os pastores já começam a se manifestar...

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