terça-feira, 6 de novembro de 2012

...mas também o Português,

que é, aliás, a sexta língua mais falada do mundo, com cerca de 220 milhões, ficando atrás somente do Mandarim, Hindi, Inglês, Espanhol e do Árabe.

Este dado, por si só, deveria aumentar nossa autoestima e nos levar a um carinho maior pelo idioma que falamos que aos meus ouvidos é um dos mais bonitos e dos mais ricos do mundo em razão de seus muitos recursos e possibilidades de construções e variações.

Porém, quando falo em "aprender o Português" não me refiro, necessariamente, ao conhecimento das definições das regras da Gramática Normativa, apesar de não lhe negar o valor. Pelo contrário, é necessário que incorporemos estas leis de modo que o "verbo se faça carne" e nossa boca possa verbalizar aquilo do que nosso "coração" possa se encher.

Para tanto, não conheço outro instrumento mais apropriado para internalizar o estilo mais elegante da língua que a leitura, mas aí tropeçamos em outro de nossos títulos, qual seja, o de um dos países menos afeitos a este exercício, ainda que nossas editoras estejam publicando títulos em grande quantidade à cada ano.

Naturalmente, apesar de ser Bacharel em Letras não sou exemplo de perfeição vernacular. Sei que mesmo neste texto é provável que você encontre erros do ponto de vista de nossa Gramática Normativa, até porque esta questão de "revisão" é sempre complicada (Carlos Drummond de Andrade que o diga). Porém, devo admitir que o razoável domínio que tenho de nosso belíssimo idioma é fruto de muita leitura. E aqui, vale dizer, leitura "nativa" e não somente a de traduções.

Por esta razão, precisamos fazer com que nossa sociedade, a partir de nossas crianças, adquira o gosto pela leitura, ou seja, pelo livro. Um povo desenvolvido e bem educado, certamente, é um povo que lê. É necessário, neste sentido, promover uma revolução cultural em nosso país, de maneira que a leitura seja estimulada desde o início do estudo fundamental e que continue até o término da faculdade.

Herdeiros de um excelente patrimônio literário, poderíamos começar pelos autores que escreveram em nosso próprio idioma e, assim, redescobrirmos os grandes nomes de nossa Literatura. Nomes, como por exemplo, do poeta Castro Alves que no poema abaixo exalta a importância desta temática em uma de suas mais conhecidas obras.

Desfrute:

    O Livro e a América

    Talhado para as grandezas, 
    Pra crescer, criar, subir, 
    O Novo Mundo nos músculos 
    Sente a seiva do porvir. 
    — Estatuário de colossos — 
    Cansado doutros esboços 
    Disse um dia Jeová: 
    "Vai, Colombo, abre a cortina 
    "Da minha eterna oficina... 
    "Tira a América de lá".

    Molhado inda do dilúvio, 
    Qual Tritão descomunal, 
    O continente desperta 
    No concerto universal. 
    Dos oceanos em tropa 
    Um — traz-lhe as artes da Europa, 
    Outro — as bagas de Ceilão... 
    E os Andes petrificados, 
    Como braços levantados, 
    Lhe apontam para a amplidão.

    Olhando em torno então brada: 
    "Tudo marcha!... Ó grande Deus! 
    As cataratas — pra terra, 
    As estrelas — para os céus 
    Lá, do pólo sobre as plagas, 
    O seu rebanho de vagas 
    Vai o mar apascentar... 
    Eu quero marchar com os ventos, 
    Corn os mundos... co'os 
    firmamentos!!!" 
    E Deus responde — "Marchar!"

    "Marchar! ... Mas como?...  Da Grécia 
    Nos dóricos Partenons 
    A mil deuses levantando 
    Mil marmóreos Panteon?... 
    Marchar co'a espada de Roma 
    — Leoa de ruiva coma 
    De presa enorme no chão, 
    Saciando o ódio profundo. . . 
    — Com as garras nas mãos do mundo,

    — Com os dentes no coração?... 
    "Marchar!... Mas como a Alemanha 
    Na tirania feudal, 
    Levantando uma montanha 
    Em cada uma catedral?... 
    Não!... Nem templos feitos de ossos, 
    Nem gládios a cavar fossos 
    São degraus do progredir... 
    Lá brada César morrendo: 
    "No pugilato tremendo 
    "Quem sempre vence é o porvir!"

    Filhos do sec’lo das luzes! 
    Filhos da Grande nação! 
    Quando ante Deus vos mostrardes, 
    Tereis um livro na mão: 
    O livro — esse audaz guerreiro 
    Que conquista o mundo inteiro 
    Sem nunca ter Waterloo... 
    Eólo de pensamentos, 
    Que abrira a gruta dos ventos 
    Donde a Igualdade voou...

    Por uma fatalidade 
    Dessas que descem de além, 
    O sec'lo, que viu Colombo, 
    Viu Guttenberg também. 
    Quando no tosco estaleiro 
    Da Alemanha o velho obreiro 
    A ave da imprensa gerou... 
    O Genovês salta os mares... 
    Busca um ninho entre os palmares 
    E a pátria da imprensa achou...

    Por isso na impaciência 
    Desta sede de saber, 
    Como as aves do deserto 
    As almas buscam beber... 
    Oh! Bendito o que semeia 
    Livros... livros à mão cheia... 
    E manda o povo pensar! 
    O livro caindo n'alma 
    É germe — que faz a palma, 
    É chuva — que faz o mar.

    Vós, que o templo das idéias 
    Largo — abris às multidões, 
    Pra o batismo luminoso 
    Das grandes revoluções, 
    Agora que o trem de ferro 
    Acorda o tigre no cerro 
    E espanta os caboclos nus, 
    Fazei desse "rei dos ventos" 
    — Ginete dos pensamentos, 
    — Arauto da grande luz! ...

    Bravo! a quem salva o futuro 
    Fecundando a multidão! ... 
    Num poema amortalhada 
    Nunca morre uma nação. 
    Como Goethe moribundo 
    Brada "Luz!" o Novo Mundo 
    Num brado de Briaréu... 
    Luz! pois, no vale e na serra... 
    Que, se a luz rola na terra, 
    Deus colhe gênios no céu!...


    Castro Alves

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